O I Seminário de Pesquisa, Gestão, Trabalho, Educação e Saúde promovido pela UFRN contou com a apresentação de dois painéis reunindo pesquisas no tema. O primeiro, no “Trabalho em Saúde: da dor ao prazer”; e o segundo, “Os heróis da Saúde também adoecem”.
A coordenação do segundo painel foi da pesquisadora do Observatório RH-UFRN, Thais Paulo Teixeira Costa. A primeira pesquisa apresentada tratou de trabalho e adoecimento, “Trabalho x Adoecimento: percepção dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde do Brasil”, pela sanitarista do Departamento de Saúde Coletiva (UFRN), e foi apresentado pela pesquisadora Tatiana Mendes.
A segunda pesquisa, “Cuidando de quem cuida: a saúde do trabalhador da Saúde no pós-pandemia da COVID 19”, foi apresentada pela professora do Departamento de Educação Física e do Mestrado Profissional em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde da UFRN., Maria Aparecida Dias e por Patrícia Ferrás do Ministério da Saúde.
Confira abaixo mais detalhes sobre cada uma das pesquisas apresentadas no segundo painel do I Seminário de Pesquisa, Gestão, Trabalho, Educação e Saúde.
Trabalho x Adoecimento: percepção dos trabalhadores do SUS
A pesquisa teve por objetivo analisar a percepção dos trabalhadores de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre a relação entre trabalho e adoecimento dos trabalhadores de sua instituição. A proposta é de um estudo documental, com abordagem qualitativa, recorte de uma pesquisa realizada pelo ObservaRH UFRN, resultado de Termo de Cooperação Descentralizado acordado entre o Ministério da Saúde do Brasil (MS) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A múltipla equipe de pesquisadores do Observatório RH UFRN, composta pela coordenação, Janete de Lima e Castro e Rosana Lúcia Alves Vilar; e os pesquisadores Dyego Leandro Bezerra de Souza, Tatiana de Medeiros Carvalho Mendes, Samara da Silva Riberio, Nathalia Hanany Silva de Oliveira, Rafael Rodolfo Tomaz de Lima, Josenildo Borges Ferreira, Abigail Keyla de Santana, Antônio Medeiros Junior, Anna Beatriz Domingos de Souza, Dinorah de França Lima, Emanuelle Yasmim S. do Nascimento, Eliana Costa Guerra e Gustavo Manoel Rocha Araújo, participou desta pesquisa.
Foram analisados documentos do curso de Aperfeiçoamento e Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde produzidos no período de novembro de 2014 a janeiro de 2016 na região centro-oeste, e de agosto de 2018 a agosto de 2019, nas regiões Sul e Sudeste, processados com auxílio do software Iramuteq.
Submetidos à análise lexicográfica e Classificação Hierárquica Descendente (CHD), foram analisados à luz da Análise de Conteúdo de Bardin. O estudo foi realizado com base nos princípios da bioética e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL).
Os achados mostram que, na percepção dos respondentes, o trabalho tem relação com o adoecimento dos profissionais da instituição de saúde onde trabalham e que os ambientes desfavoráveis, as extensas, duplas e até triplas jornadas de trabalho, a insuficiência de recursos humanos, os baixos salários, a ausência de espaços de diálogos, ausência de plano de carreira, dentre outros, estão relacionados ao adoecimento dos trabalhadores.
Além disso, a pesquisa constatou que as condições e processos desfavoráveis de trabalho geram sentimento de desvalorização, desmotivação, ansiedade e, muitas vezes, adoecimento físico, como doenças osteomusculares, cefaleias e problemas de saúde mental, dentre outros problemas de saúde constatados.
A pesquisa ainda apontou para a necessidade de mais estudos sobre o tema, na tentativa de provocar mudanças institucionais e superar os problemas que comprometam a saúde dos trabalhadores; e que é preciso entender que a compreensão do trabalho e suas implicações na saúde do trabalhador são fundamentais a fim de se aprimorar ou traçar políticas e ações adequadas para a promoção da saúde dos trabalhadores.
Torna-se, portanto, conclui a pesquisa, fundamental o investimento em medidas protetoras para prevenir acidentes e o adoecimento nessa classe de profissionais, bem como o investimento na melhoria das condições laborais.
A saúde do trabalhador da Saúde no pós-pandemia da COVID 19
A pesquisa “Cuidando de quem cuida: a saúde do trabalhador da Saúde no pós-pandemia da COVID 19”, apresentada por Maria Aparecida Dias e Patrícia Ferrás buscou analisar em que medida a prática de atividade física contribui para a saúde e qualidade de vida dos trabalhadores da Saúde no período da Pandemia da Covid-19 ao identificar quais as atividades físicas desenvolvidas pelos trabalhadores em seu cotidiano e as ofertas de atividades físicas disponíveis nos ambientes de trabalho para compreender a relação entre boas condições de saúde dos trabalhadores e a prática regular de atividade física.
As pesquisadoras também buscaram mapear as estratégias de atividades físicas identificadas e sugeridas pelos trabalhadores do Ministério da Saúde para propor, a partir da análise dos resultados da pesquisa, recomendações que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida e à promoção à saúde do trabalhador com o foco na atividade física para os trabalhadores da Saúde do Ministério da Saúde no período pós-pandemia.
Participaram da abordagem trabalhadores ativos do Ministério da Saúde lotados em Brasília, nas Superintendências Estaduais, nos Hospitais e Institutos Federais do Rio de Janeiro ou nos Distritos Sanitários Indígenas (DSEI). A amostra de conveniência foi formada pelos trabalhadores ativos do MS, de todas as UF (servidores, contratos temporários, DAS sem vínculo, bolsistas de nível superior, contratados por organismo internacional, estagiários de Nível Superior, estagiários de Nível Médio, terceirizados).
Trata-se de um estudo descritivo-exploratório com abordagem qualitativa e quantitativa.
Os dados quantitativos se detiveram ao perfil sociodemográfico e ao perfil de saúde do público alvo da pesquisa. Os dados qualitativos, por sua vez, focaram em duas questões abertas procurando mapear as atividades físicas que os trabalhadores gostariam que fossem ofertadas no local de trabalho e os benefícios da prática de atividade física em sua percepção.
Um questionário foi aplicado com 35 questões fechadas e duas questões abertas, totalizando 37questões, englobando informações sobre dados sociodemográficos, educativos, laborais, de saúde, de adesão a atividade física e sobre a existência de espaços para a prática de atividade física no seu ambiente de trabalho. O questionário foi disponibilizado de forma online por meio do google forms.
Os resultados apontaram que dos 552 respondentes, 74% são mulheres e 26% homens, 88,4% heterossexuais, 47,3% brancos, 39% pardos, 5,9% pretos, 2% amarelos e 5,9% indígenas ; 72,8% referiram que tiveram COVID-19, com avaliação sobre sua saúde física e mental como regular em 31% e 32% como ruim no pós-covid ; e 51,3% apresentou sintomas moderados, graves ou muito graves, acarretando sintomas pós-covid como fadiga, cansaço, fraqueza, dificuldades de linguagem, raciocínio/concentração e memória, dores de cabeça, perda de paladar e olfato, dores e/ou fraqueza muscular, depressão e ansiedade, distúrbios do sono, falta de ar ou dificuldade para respirar e agravamento de doença preexistente.
Sobre as atividades que os trabalhadores gostariam que fossem ofertadas no local de trabalho foram identificadas 11 diferentes modalidades de interesse e as que mais se destacaram quanto a sua distribuição de frequência foram ginástica Laboral (39%), pilates (11,8%), ioga (10,6%), musculação (7%), dança e exercício aeróbico, ambos com 5,9%.
Sobre benefícios percebidos com a prática regular de atividade física, 46,9% relacionou com melhorias na saúde em geral e na qualidade de vida ; 11,8% com a diminuição do estresse ; e 25,6% com a melhoria na produtividade e no relacionamento da equipe de trabalho.
É também proposta do estudo uma oficina de trabalho formada pelos pesquisadores e os profissionais que atuam no serviço com expertise sobre saúde do trabalhador para analisar os resultados dos dados.
Sete recomendações foram propostas pelo estudo, dentre elas, fortalecer, junto às unidades do MS, a necessidade de reconhecer a importância da atividade física para a saúde do trabalhador; propor às unidades, que promovam ações educativas que tematizem a saúde do trabalhador tendo como foco a atividade física e sua relação com a qualidade de vida e no cotidiano laboral dos mesmos; implementar a prática de atividade física nas unidades do MS, considerando a realidade local, as necessidades e estruturas existentes; e inserir na agenda pública dos gestores de saúde o fortalecimento da Política de Saúde do Trabalhador com ênfase na prática de Atividade Física.
Por fim, as pesquisadoras acreditam que as informações obtidas no questionário vão além, pois demostram que a saúde mental tem uma ligação direta com prática da atividade física, independente da condição de saúde física do trabalhador, ou seja, prática atividade física no cotidiano fortalece outros canais de vida como as relações interpessoais, a autopercepção, a qualidade de vida e a produtividade laboral.
Sendo assim, a pesquisa aponta como desafio para a gestão do trabalho na saúde a afirmação de políticas públicas que reforcem a centralidade e valorização dos trabalhadores(as) da saúde por meio do desenvolvimento de estratégias de cuidado, em especial no âmbito da prática de atividade física no espaço de trabalho, em virtude do seu potencial para a saúde do trabalhador.
I Seminário de Pesquisa, Gestão, Trabalho, Educação e Saúde
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por uma iniciativa do Programa de Pós-graduação em Gestão do Trabalho, Educação e Saúde e do Observatório de Recursos Humanos em Saúde, promove o I Seminário de Pesquisa, Gestão, Trabalho, Educação e Saúde da UFRN, em parceria com o SGTES/MS, SESAP/RN e Prefeitura do Natal, apresentando como tema “Saúde do Trabalhador da Saúde”.
O evento aconteceu no dia 15 de junho de 2023, das 8h às 17h, no auditório do Departamento de Educação Física, Campus Central da UFRN em Natal/RN. Na programação, exposição de pôsteres, palestra, apresentação de painéis com resultados de pesquisas na área e mesa redonda.
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