Gustavo Sobral
Pesquisador do Observatório de Recursos Humanos da UFRN
Quarta-feira, 08 de setembro de 2021, 20h, o curso de graduação em Saúde Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva DSC/UFRN e o Instituto de Saúde Coletiva da UFBA promoveram um encontro online, live, sobre a formação e regulamentação da profissão do bacharel em Saúde Coletiva.
O evento contou com a mediação da professora Janete Castro, DSC/UFRN; e exposições da professora Liliana Santos, UFBA, sobre a formação e a regulamentação profissional do sanitarista, abordando os caminhos e as perspectivas para a graduação em saúde coletiva no Brasil; também houve a exposição da sanitarista e mestranda do MPGTES/UFRN Ingrid Beatriz, que narrou seu percurso enquanto aluna do curso de graduação, a atividade profissional no sistema de saúde e o ingresso no curso do mestrado em Saúde Coletiva.
Professores e ex-coordenadores do Curso de Saúde Coletiva da UFRN e UFBA, estudantes e egressos dos cursos de graduação e pós-graduação em Saúde Coletiva de diversos estados, perfazendo um total de 133 participantes, se fizeram presentes, lançando perguntas e contribuindo com depoimentos sobre as suas experiências e expectativas.
No chat, alunos e professores se apresentaram, propuseram questões e reflexões que foram trazidas ao debate. A professora mediadora Janete Castro ressaltou a importância dos cursos para formação em saúde coletiva e da participação efetiva e proativa dos alunos nos processos de conquista para formação e trabalho.
Ao final do encontro, os participantes conclamaram a necessidade de união para se lançarem aos novos desafios e fortalecer a formação profissional e as oportunidades de trabalho no campo.
Caminhos e perspectivas para a graduação em saúde coletiva no Brasil
A professora e expoente Liliana Santos da UFBA apresentou a realidade atual. Hoje, são mais de 3.000 profissionais formados e 24 cursos distribuídos em todo país, em maioria em universidades federais que surgem para o SUS e pelo SUS.
Em sua exposição a professora lançou perguntas para pensar e repensar o campo profissional da saúde coletiva, um exercício reflexivo, apontou, que deve partir da própria experiencia profissional na saúde coletiva, na docência e na condução de estudos e dos espaços de discussão como a Abrasco.
A professora Liliane Santos ressaltou a importância da pesquisa para o levantamento de dados e mapeamento das questões profissionais pertinentes a debate como forma de encontrar respostas a perguntas prementes como: Onde estão e o que fazem os sanitaristas formados? Que espaços de trabalho incluem e excluem o bacharel?
Como se dá a interação entre o formado na pós-graduação e na graduação no processo de trabalho? Como os bacharéis percebem sua inserção no mundo do trabalho?
Em sua explanação a professora Liliane Santos também apresentou o perfil do profissional sanitarista. Quem é ele? É aquele profissional generalista, humanista, com visão crítica e reflexiva, atuando na epidemiologia, na política de gestão, nas ciências humanas e sociais, na saúde e no ambiente.
A professora apresentou a trajetória do curso desde a década de 1920, passando pela formação do sanitarista na década de 1970, com o surgimento dos cursos de pós-graduação latu sensu e oferta de formação e ensino, até a chegada da década de 1990, quando dar-se uma mudança, quando a possibilidade de criação do curso começou a ser abordada no âmbito da saúde coletiva brasileira.
Também foi tema da abordagem a inclusão da ocupação sanitarista na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) para regulamentação e regulação profissional.
Outro ponto importante, neste contexto, ressaltou a professora, é a necessidade de se conhecer a realidade atual: onde atuam as sanitaristas e os sanitaristas? Elas e eles estão absorvidos no SUS, na pós-graduação lato e stricto sensu, no terceiro setor, desenvolvendo ações de vigilância, analise de políticas, gestão de sistemas e serviços, promoção da educação, na saúde suplementar, em consultorias e assessorias.
Outro fator importante, frisou a professora Liliane Santos, são os desafios e as perspectivas que Saúde Coletiva enfrenta hoje.
Trata-se do contexto político adverso de tensão social, ameaças ao SUS e a empregabilidade dos egressos; o fato das diretrizes curriculares ainda não terem sido publicadas; e a existência do Projeto de Lei 1.821/2021 que dispõe sobre a regulamentação da atividade profissional do sanitarista e outras providências.
Quanto as perspectivas, a professora Liliane Santos lançou a necessidade se observar as relações dos cursos com a pós-graduação; o fortalecimento de integração com serviços e comunidades; e articulação nacional nos espaços e fóruns de debate e discussão, como FGSC, CONESC, ABASC, ABRASCO, Rede UNIDA, CEBES, APSP, entre outros. A professora concluiu a sua fala afirmando: a profissão ainda precisa se legitimar no mundo do trabalho.
A formação e a experiência pessoal
A bacharel em Saúde Coletiva pela UFRN e especialista em Gestão do Trabalho e Educação na Saúde pela UFRN e também mestranda no Programa de Pós Graduação em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde, Ingrid Beatriz, por sua vez, abordou seu percurso na saúde coletiva desde a graduação até o momento presente.
Ingrid Beatriz considerou a importância de envolvimento dos alunos em outras instâncias acadêmicas como projetos de pesquisa e extensão, tendo ela mesma atuado no Observatório RH da UFRN e no Centro Acadêmico, entendendo ser de suma importância o envolvimento nas atividades da academia não só para a formação como também para a instrumentalização para os futuros espaços de trabalho.
Ingrid Beatriz também destacou a motivação como essencial no processo formativo, apontando que começou na SESAP/RN em 2017, assim que concluiu a graduação, ocupando cargo comissionado na Subcoordenadora de Capacitação de Recursos Humanos, enfatizando que ocupar um cargo comissionado depende de um contexto favorável, mas também depende da proatividade, qualificação e formação do profissional.
Também relatou a sua experiência no cargo efetivo de sanitarista na Secretaria de Saúde de Natal/RN, tendo ingressado por concurso público em 2018, e ressaltou que o concurso só foi possível pela forte atuação e mobilização dos estudantes e egressos para que vagas no concurso para a secretaria de saúde fossem destinadas aos formandos em Saúde Coletiva para que no edital do concurso tivesse vagas para estes profissionais.
Atualmente, Ingrid Beatriz atua no departamento de gestão da secretaria e recebeu convite para assumir a Subcoordenadora de Gestão do Trabalho da SESAP/RN.
Aberto espaço para perguntas e comentários, alguns egressos e estudantes apresentaram um pouco de sua trajetória e as professoras Janete Castro e Liliana Santos encerravam o evento aventando a necessidade de encontros como este serem mais frequentes como espaço para refletir sobre a formação e a atuação do profissional de Saúde Coletiva.