[...] O mestrado pra mim fez essa gigantesca diferença pra que eu enxergasse e tentasse manter a visão da saúde do trabalhador. Renata Freire do Nascimento
Renata Freire do Nascimento é mestranda em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Servidora da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte; bacharel em Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde/ Saúde Coletiva, Sanitarista (UFRN); tecnóloga em Gestão Pública (UFRN); especialista em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (UFRN); técnica em Enfermagem (UFRN). Nesta entrevista, realizada em novembro de 2023, por Gustavo Sobral e Thais Paulo, para Observatório RH UFRN, parte de uma série de entrevistas com os mestrandos do PPGTES, Renata Freire do Nascimento apresenta um pouco da sua visão e experiência enquanto discente do MGTES/UFRN.
Observatório RH: Qual a principal motivação para ingressar no mestrado? Renata Freire do Nascimento: Minha história com a área da gestão do trabalho e da educação na saúde começa no curso de Saúde Coletiva, passa pela Especialização na área e chega ao mestrado, aliado a este meu processo formativo, tem a minha trajetória profissional que começa com concurso para Secretaria de Estado em Saúde Pública: quando fui nomeada para a Secretaria, já tinha iniciado a graduação em Saúde Coletiva e fui lotada no setor de dimensionamento de pessoal da Coordenadoria de Recursos Humanos, hoje Coordenadoria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Daí em diante, todo o meu processo formativo na graduação teve um olhar para a gestão do trabalho. Fui desenvolvendo o meu conhecimento muito focado nesta área. Assim que me formei, apareceu a Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, e fui também desenvolvendo minha carreira enquanto funcionária da Secretaria e trilhando uma certa liderança, passei a ser então chefe do setor de dimensionamento, e veio um convite para que eu me tornasse subcoordenadora de gestão do trabalho na Secretaria. Até que apareceu o mestrado, uma oportunidade para que pudesse retomar os estudos e aprofundar ainda mais. Mas acontece que quando abriram as inscrições para a primeira turma eu tinha acabado de ter neném e não tive a menor condição de fazer um projeto.
Observatório RH: Qual a importância tendo em vista a sua trajetória de trabalho e de formação de cursar este mestrado? Renata Freire do Nascimento: Eu sempre achei que o mestrado aprofundaria a minha capacidade de ser criativa, de ter novas iniciativas e de levar a gestão do trabalho para um patamar mais profissional e menos empírico. Quando me vi num cargo de liderança importante, com poder para realmente mudar algumas coisas, esse anseio foi ainda maior. Na segunda turma, foi que consegui me inscrever e ser aprovada e foi tudo num contexto da Pandemia.
Observatório RH: E como foi ingressar no mestrado neste contexto da Pandemia da Covid-19? Renata Freire do Nascimento: A gente tinha que trabalhar muito, muito mesmo, se a gente não se dedicasse, não estaria dando o nosso melhor para salvar as vidas que tinham que ser salvas para fazer tudo que poderia ser feito. Tínhamos muito que fazer e passamos a enxergar o quanto aquele contexto de estresse e sobrecarga no trabalho era adoecedor e vimos que perpassava ao contexto da Pandemia, porque passamos a perceber que o trabalhador da saúde é vítima de uma sobrecarga de trabalho. A Pandemia nos fez voltar a pensar na saúde do trabalhador, do SUS, na qualidade de vida desse trabalhador. No impacto psicológico de tudo o que de todo o esforço que foi feito por esse trabalhador do SUS, então acho que o mestrado para mim foi a retomada de uma visão de valorização do trabalhador. A ampliação desse conhecimento sobre o que é exploração e o que é trabalho respeitoso. Precisamos achar esse equilíbrio entre fazer o melhor e o que os servidores precisam. Então, o mestrado pra mim fez essa gigantesca diferença pra que eu enxergasse e tentasse manter a visão da saúde do trabalhador.
Observatório RH: Como foi articular o dia a dia do trabalho com o mestrado? Renata Freire do Nascimento: São dois lados, tem o lado da angústia, de você ter que deixar o seu trabalho para fazer o processo formativo. Então esse é um lado que eu não vou mentir porque é o SUS. Embora haja um compromisso para que a gente seja liberado para o estudo, quando estamos em cargos de grande liderança, isso traz uma sobrecarga de trabalho enorme, uma responsabilidade muito grande. Então, entrei no mestrado como subcoordenadora logo as aulas começaram e, em seguida, fui promovida como coordenadora de regulação de outra área, ou seja, eu tinha que me esforçar para conhecer outra área sem deixar a gestão do trabalho para trás. E tudo foi um aprendizado. Fui aprofundando os conhecimentos em meio à prática. Você vai permeando, buscando permear aquilo que você está aprendendo, numa mudança dos processos de trabalho que você está é interferindo. E o mestrado nos ajuda também no sentido de fazer as pessoas refletirem sobre o seu próprio processo de trabalho, como melhorá-las. Como ter uma visão crítica sobre ele? Então, o mestrado traz isso. O mestrado traz para nós a consciência de quanto é importante que você estude sobre o que você está fazendo. Preciso estudar, é preciso fazer a reflexão e tentar modificar os processos de trabalho, buscando o equilíbrio. Aí, entre o que se faz hoje e o que deveria ser feito e o que pode ser feito.
Observatório RH: Qual a sua proposta de pesquisa no mestrado? Renata Freire do Nascimento: Meu projeto buscou fazer um resgate histórico na documentação da Comissão Intergestores Bipartite relacionada ao processo regulatório. Isso envolve, inclusive dizer que profissional regulador ele decide quem vai ter acesso a ter chance de lutar pela vida ou não ter chance de um diagnóstico ou não, tendo em vista os recursos insuficientes do SUS para as necessidades da população. E esse profissional regulador, quem se preocupa com ele, com o sofrimento que é para ele ter que decidir quem vai ter acesso a um leite de UTI ou não? Quem vai ter a chance de sobreviver ou não? Quem defende ele, quando ele é questionado judicialmente, porque escolheu caso tal em detrimento de caso tal? Quando isso é visto pelos gestores de municípios e Estado? Meu trabalho busca uma resposta a esta questão unindo conhecimento em gestão do trabalho e da educação na saúde e a regulação de acesso no estado do Rio Grande do Norte.
Observatório RH: Para finalizar, que mensagem você deixaria àqueles que pretendem cursar o mestrado? Renata Freire do Nascimento: Quando procurarmos nos aperfeiçoar, inspiramos a quem nos cerca, pois, além do trabalho, do estudo, também podemos ser fonte de inspiração. Só o conhecimento traz segurança, e segurança para a gente fazer o que faz, só buscando o conhecimento, buscando uma formação e excelência que este mestrado pode nos proporcionar.