[...] O aprendizado teórico em paralelo à atividade profissional é fundamental em todas as áreas, sobretudo, no caso da área da gestão do trabalho. Rayane Araújo
Rayane Larissa Santos de Araújo é mestranda em Gestão, Trabalho e Educação na Saúde (PPGTES/UFRN). Possui graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2017), Especialização em Saúde Pública (UFRN) e em Gestão de Programas de Residência em Saúde (Sirio Libanês). Atualmente, é Subcoordenadora Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte. Já atuou nas áreas de gestão e atenção em serviços de saúde, planejamento em saúde e articulação ensino e serviço, nesta entrevista, Rayane Larissa Santos de Araújo apresenta um pouco da sua visão e experiência enquanto discente do MGTES/UFRN. A entrevista foi realizada em abril de 2023 por Gustavo Sobral e Thais Paulo para Observatório RH UFRN e é parte de uma série de entrevistas com os mestrandos do PPGTES.
Observatório RH: Qual a principal motivação para realizar um mestrado profissional? Rayane Araújo: O fato de poder ingressar no mestrado, ter acesso a um conteúdo teórico na área da educação, me chamava atenção, como também a oportunidade para conhecer, nesta perspectiva, um pouco mais sobre o mundo do trabalho.
Observatório RH: Quais era as suas expectativas ao ingressar no mestrado? Rayane Araújo: Eu achava que quando eu entrasse no mestrado, eu iria adentrar um pouco mais na área da gestão do trabalho, mas, para a minha surpresa, tive também uma compreensão mais ampliada da gestão da educação. O mestrado abriu um leque que não era por mim esperado. Me proporcionou uma articulação entre a vivência que eu tinha e o leque teórico que o programa oferece.
Observatório RH: Você considera a qualificação e a experiência profissional indispensáveis para melhorar a execução da sua prática profissional? Se sim, por que? Rayane Araújo: É fundamental. No dia a dia do trabalho, numa secretaria de saúde do Estado, por exemplo, a gente pensa que aquele laço teórico já está nas portarias e nas legislações da área, ali bem a mão, visível, e parece que é tudo que a gente precisa. Mas não é. O contexto que o mestrado nos proporciona amplia o nosso olhar, faz com que de fato a gente se situe e entenda aquele espaço de atuação. Confere muito mais sentido ao nosso trabalho. Por exemplo, durante o curso do mestrado, passamos a conhecer todo o processo histórico de avanços na área da saúde que nos trouxe até aqui. O curso nos leva a refletir. A gente não imagina o quão vai ser importante e se surpreende muito e positivamente. O mestrado nos provoca também inquietações: Mas por que que a gente atua dessa forma? Será que de fato a gente precisa continuar atuando assim? Do mesmo jeito que sempre foi feito? Ou então a gente acha que está fazendo uma coisa extremamente nova e não é tão nova assim. Outras pessoas já fizeram e funcionou, ou não funcionou. É um mundo que se revela.
Observatório RH: Que diferencial na atuação profissional o curso lhe trouxe? Rayane Araújo: O mestrado é um divisor de águas na minha atuação profissional. Você sente a diferença no cotidiano do trabalho. No decorrer do mestrado, você já vai sentindo a diferença na sua prática de trabalho a partir das ferramentas que lhe foram sendo apresentadas durante o curso. Você vai adentrando, conhecendo e também refletindo sobre as questões do trabalho e da educação na saúde ao ler os artigos e dialogar nestas leituras com o pensamento dos autores.
Observatório RH: Dentre os ganhos no processo de atuação profissional qual você considera essencial? Rayane Araújo: O laço teórico confere mais segurança no desenvolvimento do trabalho e abre possibilidades para refletir sobre o nosso trabalho. Passamos a pensar e a produzir com mais propriedade, sobretudo, porque somos nós, gestores, que estamos à frente da condução de políticas públicas. Então, passamos a criar e a conduzir os projetos com um nível de consciência muito maior. O mestrado confere um sentido e mais propriedade ao que a gente faz.
Observatório RH: Você considera importante esse constante aprendizado teórico em paralelo à atividade profissional? Rayane Araújo: O aprendizado teórico em paralelo à atividade profissional é fundamental em todas as áreas, sobretudo, no caso da área da gestão do trabalho. Essa busca pelo conhecimento e o estudo é extremamente importante, útil e necessária para identificar os problemas que tem na rede de atenção e na melhoria do cuidado com a saúde.
Observatório RH: O mestrado ser na área de gestão do trabalho e da educação na saúde faz a diferença? Rayane Araújo: O fato de ser um mestrado voltado para a nossa área faz total diferença, porque traz reflexões que a gente não consegue fazer no dia a dia pelas urgências impostas pelo serviço. Estamos falando da gestão do trabalho que é uma área muito movida também pela necessidade de pessoal e a qualificação desse pessoal. O nosso dia a dia é também muito voltado para as urgências.
Observatório RH: A escolha do seu objeto de pesquisa partiu de que provocação? Rayane Araújo: Minha proposta de investigação é a avaliação da primeira edição do Versus Potiguar avaliando essa experiência da implementação do projeto. No meu caso, essa não foi o meu primeiro tema. Eu entrei com outro. A gente tinha um processo que foi estabelecido de pesquisa e intervenção dentro da secretaria e a gente tinha alguns eixos de pesquisa considerando as áreas. Na época, eu queria fazer uma pesquisa que já tivesse dentro desse projeto mãe. No entanto, eu mudei o projeto porque dentre aquelas pesquisas que foram desencadeadas eu optei por essa do Versus Potiguar. O meu trabalho especificamente parte do processo de análise de avaliação institucional.
Observatório RH: Você poderia nos contar um pouco sobre o processo do aprendizado, a relação com os outros mestrando e com os colegas de trabalho? Rayane Araújo: Ao mesmo tempo que a gente se depara a realidade, o teletrabalho, a precarização de vínculos, a sobrecarga de trabalho, as consequências do processo pandêmico e as implicações nos trabalhadores da saúde a gente nutre um diálogo com os colegas. Somos também um grupo de gestores e a gente faz essas e outras reflexões a todo momento. A todo momento a gente está olhando para a nossa realidade e se pergunta: Como é que a gente interage com ela? Sabendo que temos possibilidade de intervir. Cursamos o mestrado também com este intuito de contribuir para pensar esta realidade. Faz muita diferença, portanto, pensar em grupo. É um privilégio.
Observatório RH: Como avalia o apoio da gestão dos serviços e dos colegas aos trabalhadores que desejam se qualificar? Rayane Araújo: Tivemos todo o apoio possível. A começar pela própria anuência das gestões para que pudéssemos participar do curso. Aqui no Rio Grande do Norte, conseguimos que a gestão respeitasse esse momento. O fato de passar por esta experiência nos leva a entender a necessidade e a potência que é investir, acreditar e apoiar os processos de qualificação, os processos de educação no ambiente de trabalho. Tanto que preparamos uma força tarefa pra apoiar os colegas que concorreram neste último edital para o mestrado em 2023. Entendendo assim o poder de mudança que o mestrado traz. No meu caso, eu também acho que o fato de ter uma pesquisa organizada pra acontecer forçou a equipe a também passar por esse processo. As etapas da pesquisa muitas vezes se confundiram com ações de avaliação do próprio projeto em si. Então fizemos uma oficina com a equipe e foi possível poder avaliar todo o processo pra poder melhorá-lo.
Observatório RH: Poderia nos falar um pouco sobre os professores e a sua experiência como mestranda? Rayane Araújo: Faz muita diferença quando o professor tem uma história dentro do Sistema Único de Saúde, como, por exemplo, a professora Janete Castro, que é a coordenadora do programa. Faz muita diferença também ter professores referências em áreas específicas, como o professor Marcelo Viana. Quando me dei conta no Encontro Internacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde que em todas as mesas estavam presentes os temas das aulas do mestrado, eu percebi o quanto o mestrado proporcionou o acesso a professores que estão produzindo conhecimento, que são o suprassumo da área e não é pouca coisa.
Observatório RH: Poderia nos falar um pouco sobre o processo de orientação e o trabalho com a sua orientadora? Rayane Araújo: A minha orientadora, professora Rosana Vilar é um presente de Deus. Ela foi fundamental. Conseguimos manter uma relação de muito respeito e confiança e estabelecer pactos possíveis de trabalho que fizeram com que eu tivesse mais segurança. A todo momento ela me trazia orientações muito assertivas, sempre me deixando livre e me deixando confortável. Fez com que eu me empolgasse com o processo de pesquisa e o processo de escrita. Fez toda a diferença.
Observatório RH: Para finalizar, que mensagem você deixaria para quem tem o interesse em cursar o mestrado? Rayane Araújo: Eu diria que este mestrado é revolucionário para quem atua na área e que o processo de aprendizado é essencial na vida de qualquer pessoa que de fato tenha paixão pelo que faz.