Rede ObservaRH - Observatório RH da UFRN

[...] "Conseguimos avançar quando estamos integrados e avançamos de uma forma significativa quando colocamos o contexto local das nossas pesquisas e dos nossos estudos como foco". Marcelo Viana

Entrevista

Marcelo Viana da Costa | Coordenador do I Simpósio de Educação Interprofissional da UFRN e da III Mostra de Educação na Saúde

Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Marcelo Viana das Costa é professor da Escola Multicampi de Ciências Médicas e do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Ensino na Saúde e do Programa de Pós-graduação Mestrado Profissional em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde. Além disso, é vice-coordenador da Rede Brasileira de Educação e Trabalho Interprofissional em Saúde (ReBETIS). Em entrevista concedida, em outubro de 2022, à coordenadora do Observatório RH UFRN, Janete Castro, pelo Google Meet, o professor Marcelo Viana trata do I Simpósio de Educação Interprofissional da UFRN e da III Mostra de Educação na Saúde, ambos os eventos realizados na UFRN entre os dias 28 e 29 de setembro de 2022.

Observatório RH: Qual foi o propósito de realizar conjuntamente a III Mostra de Educação na Saúde à realização do I Simpósio de Educação Interprofissional da UFRN? Marcelo Viana: A III Mostra é um evento oficial do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde e tem um papel importante na divulgação dos trabalhos realizados no campo do ensino na saúde. Para este ano de 2022, o colegiado deste programa de pós-graduação resolveu realizar um evento de maior alcance, convidando outros programas de pós-graduação. Assim surgiu a ideia de realizar o Simpósio de Educação Interprofissional na UFRN com a perspectiva de integrar os programas de pós-graduação em saúde. A ideia é que os programas de pós-graduação da saúde assumam importante papel de liderança não só no desenvolvimento de pesquisas e estudos relacionados ao ensino na saúde e à gestão dos serviços de saúde, mas também que consigam implementar esforços para o avanço da educação interprofissional na UFRN. Pensando nisso, ficamos com uma nova realidade, a III Mostra como evento oficial do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (MPES) e o I Simpósio de Educação Interprofissional da UFRN como evento oficial do Mestrado Profissional de Gestão, Trabalho, Educação e Saúde (MPGTES). Além desses dois programas, participaram da promoção do evento o Programa de Pós-graduação: Saúde Coletiva (PPGSCOL); o Mestrado Profissional em Educação, Trabalho, Inovação em Medicina, e o Programa de Pós-graduação Mestrado Profissional QualiSaúde.

Observatório RH: Qual a importância e a relevância em somar a III Mostra ao I Simpósio? Marcelo Viana: Penso que foi extremamente importante. Saímos de uma cultura de eventos isolados para um evento agregador, que agrega pessoas, programas, estudantes de graduação, de pós-graduação, profissionais do serviço, usuários, numa perspectiva de rede. O evento teve relevância pela participação, pelo caráter agregador, pela integração dos programas, mas também porque nós tivemos a presença de importantes nomes internacionais como o professor Andreas Xyrichis do King’s College London, a professora Júlia Philippou também do do King’s College London, e a professora Sylvia Helena Batista da UNIFESP/Baixada Santista.

Observatório RH: Na sua opinião, quais são os resultados alcançados? Marcelo Viana: Incluir o tema da Educação Interprofissional na pauta, na agenda para o futuro, para o avanço desse tema no futuro da UFRN. Conseguimos não só sair com essa agenda com cronograma de trabalho e com grupo de trabalho como também avançamos ao realizar um bom debate, reafirmando o nosso compromisso para que a educação de qualidade e a formação dos profissionais de saúde estejam comprometidas com a transformação e o fortalecimento do nosso sistema de saúde. Creio que esta foi a principal mensagem do nosso evento. Foi um pontapé inicial para promover os esforços necessários para atuar numa perspectiva de colaboração interinstitucional e internacional entre os programas.

Observatório RH: A educação interprofissional é um tema que tem sido discutido nas instituições de ensino e a UFRN não foge a esta regra. Você poderia comentar a respeito de como esta perspectiva da educação interprofissional vem sendo construída, sobretudo na UFRN, e sobre este diálogo entre as pós-graduações e a graduação? Marcelo Viana: As universidades têm uma estrutura extremamente disciplinar, rígida, uma tradição de formação uniprofissional com pouca ou nenhuma oportunidade de aprendizagem interprofissional. Na UFRN, também vivenciamos essa realidade. No entanto, vale salientar que a UFRN tem uma história a partir da disciplina Saúde e Cidadania, a SACI, iniciativa que inspirou outras no país, e que se propõe a juntar estudantes dos diversos cursos da saúde de nossa universidade. Temos uma tradição importante de integração ensino-serviço-comunidade, não só pelas disciplinas de SACI, mas também por outros componentes curriculares, pela história da Escola Multicampi de Ciências Médicas, por exemplo, que tem uma inserção forte nos serviços de saúde. O que precisamos é retomar um pouco a discussão, no sentido de fortalecer os elementos teóricos, conceituais e metodológicos da educação interprofissional no processo formativo dos cursos da saúde, bem como elaborar oportunidade de educação interprofissional na UFRN.

Observatório RH: E quais são os desafios que se apresentam? Marcelo Viana: Temos um compromisso desafiador. Avançar o campo da educação interprofissional como premissa para melhorar a qualidade dos serviços de saúde. Não se consegue discutir educação das profissões da saúde sem um compromisso mútuo, sério e inegociável com a transformação e com o fortalecimento do nosso sistema de saúde. Nas duas dimensões, trabalho e educação, que são inseparáveis. A partir do momento que adotamos uma agenda para o futuro de fortalecimento da educação interprofissional, também assumimos o compromisso de um fortalecimento político educacional de educação permanente.

Observatório RH: Qual o papel dos observatórios em recursos humanos neste cenário? Marcelo Viana: O Observatório em Recursos Humanos da UFRN assume um papel de liderança no campo da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde para conduzir esse trabalho, para conduzir junto com outros parceiros uma agenda, a construção e execução de planos para o fortalecimento de um educação interprofissional, que acontece na UFRN, mas que também está em permanente diálogo com as práticas da saúde e com o trabalho em saúde. Temos desafios importantes pela frente.

Observatório RH: Como você vê a inserção dessa discussão nos programas de pós-graduação? Marcelo Viana: Precisamos fazer com que as pessoas comecem a estudar mais sobre o tema. Compreender a razão pela qual a educação internacional ao redor do mundo vem ganhando força. E vem ganhando força e visibilidade e não por modismo. Vem ganhando força, porque estamos diante de um modelo de forte fragmentação do trabalho em saúde que não consegue apresentar respostas adequadas às complexas necessidades de saúde. Para isso, precisamos fazer uma mudança na lógica de produção de serviços de saúde e essa mudança perpassa pelo fortalecimento do trabalho em equipe, pelo desenvolvimento de competências colaborativas e pelo compromisso em recolocar o usuário na centralidade do processo de trabalho. Rigor teórico, conceitual e metodológico esta é a importância de termos um mestrado profissional e uma disciplina de educação interprofissional.

Observatório RH: Qual a importância da inserção dessa disciplina no processo de formação? Marcelo Viana: Os mestrandos e mestrandas do programa são líderes que estão nos serviços, que ocupam espaços na gestão do trabalho, na gestão da educação na área da saúde e na gestão dos serviços de saúde. A discussão com esses atores é estratégica para que consigam apostar e implantar mudanças que possam reverberar numa mudança significativa na vida e na saúde das pessoas. A partir do momento que conseguem, que começam a perceber uma prática mais integrada, mais interprofissional, mais colaborativa, começam a valorizar mais essa perspectiva. Ter essa disciplina no mestrado, portanto, é de extrema relevância e importância para que consigamos ter nessas lideranças, nos nossos estudantes, que são lideranças importantes, multiplicadores desse debate e multiplicadores de um compromisso histórico que reforce o fortalecimento do SUS.

Observatório RH: Durante o evento aconteceu uma reunião com a Secretaria de Relações Internacionais da UFRN e coordenadores das pós-graduações em saúde para discutir a internacionalização dos programas pós. Quais os programas que participaram deste encontro e o que os une? Marcelo Viana: O Mestrado Profissional em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde, o mestrado profissional em Educação, Trabalho, Inovação em Medicina, o Programa de Pós-graduação em saúde coletiva PPGSCO e o Programa de Pós-graduação Mestrado Profissional QualiSaúde. foram os programas envolvidos. E por que nós integramos esses programas? Porque esses programas têm linhas de pesquisas, direcionadas à formação profissional em saúde e estão comprometidos com a mudança das práticas com o foco em melhorar a qualidade do cuidado. O compromisso social desses programas está muito claro, mas todos eles também são avaliados por uma dimensão, que é muito importante, que é a internacionalização.

Observatório RH: Você poderia falar um pouco sobre essa reunião, o que foi discutido, quais foram as possibilidades, perspectivas levantadas e também o que isso pode representar para um programa de pós-graduação, o Mestrado Profissional Gestão, Trabalho, Educação e Saúde? Marcelo Viana: Promovemos um momento com a Secretaria de Relações Internacionais da UFRN para conhecer o que existe em termos de política pública atualmente que possa nos ajudar não só a pensar relações internacionais em torno dos temas que estamos pesquisando, mas também especialmente, para pensar a educação interprofissional em saúde. A Secretaria de Relações Internacionais situou o contexto atual, mostrou as possibilidades e nós também identificamos que é possível avançar na agenda da internacionalização no contexto atual, com os recursos que temos. Entendemos que o diálogo com a rede de instituições brasileiras e o diálogo com a rede de instituições internacionais pode nos ajudar a ter esse rigor teórico conceitual e metodológico. Estamos assumindo um papel de liderança para chamar esses programas e tentarmos construir, estabelecer relações internacionais para o avanço desse tema e de outros temas que são estratégicos para os cinco programas que participaram do evento.

Observatório RH: Quais as perspectivas que você vislumbra? Marcelo Viana: É preciso fortalecer esses vínculos e permitir a construção de uma parceira que nos fortaleça para que consigamos agregar e não mais separar. Conseguimos avançar quando estamos integrados e avançamos de uma forma significativa quando colocamos o contexto local das nossas pesquisas e dos nossos estudos como foco. Sem esquecer de estabelecer e compreender que o diálogo e as relações internacionais podem nos ajudar a aprofundar a compreensão teórico-conceitual necessária para avançar nessa agenda importante no contexto da nossa instituição, estado e, sobretudo, para o contexto do nosso Sistema Único de Saúde. Encontrar caminhos para avançar na agenda da internacionalização é fortalecer as nossas pesquisas, os nossos estudos e a nossa atuação no campo da educação e do trabalho em saúde.

Observatório RH: Convidados internacionais e nacionais estiveram também presentes nesta reunião. Qual a sua avaliação? É possível uma parceria e que tipo de parceria é viável no momento atual e qual se espera para o futuro? Marcelo Viana: Conseguimos estabelecer algumas parcerias possíveis, como por exemplo, realizar reuniões online, que é o que a chamamos “internacionalização em casa”. Pensamos em incluir os professores do King’s College em nossas pesquisas, realizar visitas no King’s College. Mas precisaremos de uma política de apoio. O estágio no King’s College, por exemplo, não é gratuito. Então é fundamental uma política que apoie financeiramente os nossos estudantes, professores e pesquisadores. O contexto atual, no entanto, com a ausência dessas políticas, evidencia a “internacionalização em casa” como uma estratégia para a continuidade desse diálogo e dessa parceria com a realização de novos trabalhos, a partir do uso das tecnologias da informação e da comunicação. Será o nosso primeiro caminho para manter parceria com os professores do King’s College. Outro ponto importante que saiu da nossa reunião: estabelecer parcerias com os países da América Latina. Esperamos, para o futuro, fortalecer as relações interinstitucionais e internacionais que começamos a fomentar no evento.

Observatório RH: Qual o seu balanço final sobre o que foi apresentado e debatido nestes dois dias de evento? Marcelo Viana: A defesa da educação interprofissional deve ter como principal justificativa o compromisso com uma melhor qualidade de vida e a saúde das pessoas. Saio com a certeza de que os cinco programas que participaram do evento têm esse compromisso, um compromisso inegociável. Fico na expectativa e esperança que essa parceria só se fortaleça para que realizemos mais eventos como esses e avancemos no tema da educação e no trabalho interprofissional. Muito obrigado, professora Janete Castro pelo compromisso e envolvimento com a agenda da educação e do trabalho do campo da saúde.