[...] Estamos tento uma oportunidade para mostrar o que estudamos e a que o curso se propõe: trabalhar e fortalecer o SUS. Ranielly Santos
Entrevista realizada com Ranielly Santos de Aquino que atua como Diretora Pedagógica do Centro de Formação de Pessoal para os Serviços de Saúde "Dr. Manoel da Costa Souza" . Ranielly tornou-se bacharela em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte no ano de 2016. A entrevista foi realizada por Thais Paulo Teixeira Costa, pesquisadora do Observatório de Recursos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Observatório RH: Qual foi o motivo de escolher a graduação em saúde coletiva? Ranielly Santos: Sempre falo que a graduação em Saúde Coletiva me escolheu, e não o contrário. Prestei dois vestibulares e, em minha segunda tentativa, fui aprovada na segunda opção de curso, que era a graduação em Saúde Coletiva. Por não conhecer a graduação, tive um pouco de resistência, mas, ao iniciar o semestre, identifiquei-me muito e vi que valeria a pena ir até o fim. Sempre digo que a graduação é algo que te conquista. No início, é um pouco difícil, mas, depois, tudo faz sentido. Acredito que, se eu quisesse fazer outra graduação, com a base que tenho hoje, seria totalmente diferente, pois procurar ser um profissional de saúde com preocupação com o social e com o coletivo, assim como a graduação nos ensina, faz-nos ser um profissional diferente. Isso foi uma das coisas que me cativou e me fez seguir na vida profissional.
Observatório RH: E qual foi sua trajetória após concluir a graduação? Ranielly Santos: Ao concluir a graduação, tive algumas oportunidades de trabalho aqui em Natal, mas que não deram certo. Então, comecei a estudar para concurso da Secretaria Municipal de Saúde de Natal e a buscar algumas oportunidades de atuação. Identifiquei que a residência seria uma boa opção e pensei: "Quero continuar nessa área e será importante para mim fazer uma residência”. Como no Rio Grande do Norte não tinha residência que me contemplasse, busquei informações sobre a residência em Caruaru e em Recife. Escolhi fazer a residência em Caruaru e foi uma experiência riquíssima, pois ela me fez crescer tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Ser sanitarista é muito desafiador. É refletir diariamente para que o que eu vi na graduação seja colado em prática no serviço. O que se torna um grande desafio, pois é um trabalho político e muitas vezes nos sentimos lutando contra uma maré que não acredita no serviço. É um desafio diário fazer com que o SUS dê certo, apesar de todas as suas dificuldades. Esse foi o pontapé para encarar a realidade e tentar fazer realmente o que deve ser feito.
Observatório RH: Como tem sido sua experiência enquanto sanitarista na Escola Técnica do SUS do Rio Grande do Norte, o Centro de Formação de Pessoal para os Serviços de Saúde “Dr. Manoel da Costa Souza” - CEFOPE RN? Ranielly Santos: Minha atuação na Escola Técnica do SUS/CEFOPE iniciou em fevereiro de 2019. Lá me deparei com algumas dificuldades de cara, mas que são naturais do cotidiano do trabalho. Você vê que a realidade é desafiadora pelas dificuldades que envolvem práticas de trabalho e que, às vezes, são muito difíceis de mudar, mas a gente vai aprendendo, não é isso? Vamos conhecendo outras áreas, convívios e até experiências de outras escolas. Encarar a falta de prioridade para a educação permanente é um grande desafio para o fortalecimento das práticas de saúde. Outro desafio é que, quando ações de educação existem, muitas vezes não correspondem com as necessidades de saúde. A graduação nos ajudou a perceber que existem prioridades, mas que devem ser com equidade. Lidamos também com um desafio dos recursos serem destinados do Ministério da Saúde para programas que estão distantes da realidade de Saúde do estado e ficamos reféns na execução da proposta. Estou tentando trabalhar contra isso, ter outras articulações e fazer com que as necessidades sejam ouvidas e que as propostas tenham como base a realidade local.
Observatório RH: Como tem sido atuar como egresso do curso de saúde coletiva na Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte? Ranielly Santos: Para mim, ele é histórico e é muito favorável. Estamos tento uma oportunidade para mostrar o que estudamos e a que o curso se propõe: trabalhar e fortalecer o SUS. Esse é um momento que pode abrir muitas outras portas para outros alunos que ainda estão na graduação em Saúde Coletiva. Está sendo muito bacana trabalhar no CEFOPE. É uma área nova, mas para qual eu que tinha afinidade e é uma experiência rica, pois articulo saúde e formação. Então, as áreas vão se complementando e é muito interessante viver isso.
Observatório RH: Possivelmente, este é um dos momentos com o maior número de barachareis em saúde coletiva na secretaria. Como tem sido estar inserida na secretaria com outros colegas de formação? Ranielly Santos: Vejo que o bacharel em Saúde Coletiva está sendo muito bem visto dentro da Secretaria Estadual de Saúde. Todavia, penso que precisamos nos articular mais ainda, dentro do próprio nível central, para estarmos mais juntos. Vivenciei uma experiência muito interessante com uma articulação junto à Secretaria Municipal de Saúde de Natal. Pela dificuldade que tínhamos em pactuar cursos com o município de Natal, identificamos a presença de egressos da graduação em saúde coletiva nesta secretaria e entramos em contato para articular melhor nossa relação. Acreditamos que, com a compreensão e aproximação entre as instituições, novas parcerias se tornarão mais fáceis, por exemplo.
Observatório RH: E por vivenciar um espaço novo, em seu atual ambiente de trabalho, você conseguiu perceber alguma característica a mais sobre ser bacharel em saúde coletiva? Ranielly Santos: Sim. Eu creio que o bacharel tem uma possibilidade muito grande de imersão no serviço pelo leque de ferramentas que aprendemos na graduação, mesmo não sendo a área especifica ou de identificação dele. Se você for pensar, o bacharel em Saúde Coletiva está preparado para todos eixos da área. Eu acredito que é muito fácil ele se adaptar a um determinado campo por meio do que ele já viu na graduação, mesmo não tendo sido a área que ele escolheu ou da primeira identificação na qual ele teve um aprofundamento maior dentro da graduação.
Observatório RH: E, Ranielly, se você pudesse deixar um recado para quem está iniciando a graduação de Saúde Coletiva, qual que seria? Ranielly Santos: Eu diria que se dedique, corra atrás, não fique só na sala de aula, participe de espaços coletivos, participe de bolsas de pesquisa, procure ter experiências de ensino, pesquisa e extensão e procure fazer tudo que puder e conseguir aproveitar na graduação. A universidade oferece muita coisa além da sala de aula. Vejo que a trajetória formativa durante a graduação auxilia as outras oportunidades após a formação. Vejo que, se eu tivesse aproveitado mais, teria ainda mais oportunidades. É importante também que quem está entrando na graduação procure começar a agir ainda nos primeiros períodos da graduação, buscando ir além da sala de aula, enfrentando a realidade e não sofrer quando sair da universidade. É muito gratificante ver que você faz uma coisa que a comunidade lhe reconhece e fica feliz pelo que você fez, entende? E não é uma pessoa, são várias pessoas. Então devemos aproveitar e lutar por esse espaço coletivo.
