[...] O bacharel em saúde coletiva já se mostra como um ator importante na construção e consolidação desse sistema. Victor Hugo
Entrevista realizada com Victor Hugo de França do Nascimento atual Coordenador de Planejamento e Controle do Sistema de Saúde da Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte. Victor Hugo tornou-se bacharel em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte no ano de 2013. A entrevista foi realizada por Thais Paulo Teixeira Costa, pesquisadora do Observatório de Recursos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Observatório RH: Poderia nos falar um pouco sobre a escolha da graduação e sobre sua trajetória de trabalho após formado? Victor Hugo: A Graduação em Saúde Coletiva veio como minha segunda opção de curso no vestibular. Em 2009, minha primeira opção de ingresso na Universidade Federal do Rio Grande do Norte foi o bacharelado em Biomedicina. Fiquei na suplência, em biomedicina, e fui chamado, em seguida, para a segunda opção para a qual havia me inscrito que era Graduação em Saúde Coletiva. Surgiram muitas dúvidas sobre o que seria a nossa formação, como, por exemplo, se havia campo de atuação para o graduado, isso por que éramos a segunda turma desta graduação. Porém, todas essas questões se tornaram um combustível para nós estudantes no decorrer de cada semestre. Houve uma articulação com o Movimento Estudantil Nacional e ajudamos a construir o primeiro Encontro Regional de Estudantes em Saúde Coletiva, com o objetivo de sabermos como eram as graduações em outras universidades. A minha formação se deu em um movimento intenso com o Movimento Estudantil. Assim que terminei a graduação, passei na seleção para atuar no segundo ciclo do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), no Estado do Rio Grande do Norte, em um contrato de aproximadamente 6 meses. Ao terminar essa experiência, em 2014, o então Secretário Municipal de Saúde de Natal, Cipriano Maia de Vasconcelos, convidou a mim e a outros egressos para atuar em sua equipe. Então, dentre as opções para o local de atuação, escolhi atuar no Distrito Sanitário Oeste, na perspectiva de fortalecer o papel do Distrito Sanitário. Um ponto interessante é que, junto com o trabalho, realizei a especialização em Auditoria nos Serviços de Saúde e, também, a especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, com alguns egressos da graduação em Saúde Coletiva. Foi muito importante cursar essas especializações para o meu processo de formação. Após dois anos de atuação em Natal, optei por fazer Residência Multiprofissional. Era um desejo meu antes de cursar um mestrado, além de que, naquele momento, surgiam as primeiras vagas para o bacharel em Saúde Coletiva nas residências multiprofissionais e que precisavam ser ocupadas para obter sustentabilidade nos editais. A residência aconteceu na ASCES-UNITA, no município de Caruaru/PE. Foi uma residência voltada para a Atenção Básica, o que potencializou o desejo em trabalhar na Atenção Básica, utilizando ferramentas de gestão. Passei imerso dois anos nas unidades básicas de saúde no município de Caruaru tentando aplicar todo o processo de formação do Sanitarista, como também a experiência que eu tinha tido a nível de gestão municipal e como avaliador do PMAQ nas mudanças das práticas dos serviços de saúde. Como saldo dessa experiência, ao final da residência, recebi o convite para compor a equipe da gerência de Atenção Básica no município de Caruaru. Foi uma experiência de 1 ano como apoiador institucional da Atenção Básica que, em média, possuía 13 equipes para apoiar e atuar em conjunto. As experiências de gestão culminaram em um novo convite do atual Secretário Estadual de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte para atuar nesta secretaria. Exerci o papel de assessoria ao Gabinete, inicialmente, até assumir a coordenação de planejamento. Tem sido um grande desafio, pois envolve mudar a logística de planejamento em descentralizar a pasta para outros setores. Além da atuação na secretaria, passei na seleção do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFRN. Tem sido muito rico articular o processo de trabalho com o contínuo processo formativo.
Observatório RH: Você pode falar um pouco da sua vivência atual no âmbito da secretaria estadual de saúde? Como tem sido atuar como egresso em saúde coletiva na Secretaria Estadual de Saúde do estado do Rio Grande do Norte? Victor Hugo: É importante destacar que é perceptível o quanto as pessoas que estão no serviço possuem uma visão bem positiva do egresso. Eu avalio que o bacharelado em saúde coletiva me deu todo um subsídio para atuar em diferentes espaços. Muitas ferramentas que aprendi a utilizar no decorrer da graduação são novamente utilizadas no dia a dia do trabalho, para contribuir com os cenários encontrados ou fazer reflexões durante o nosso processo de trabalho. Atualmente, como coordenador de planejamento estadual, observo que as disciplinas que cursei sempre perpassaram pelas atuais reflexões que carrego em meu cargo. Dessa forma, tenho pensado e atuado em estratégias que tenham como base o apoio institucional, e com o princípio de uma construção coletiva, para que se possa trazer atores com maior empoderamento para pensarmos de maneira articulada com os serviços. Isso envolve fortalecer a autonomia das URSAP’S, municípios e apoiar os serviços de média e alta complexidade com o apoio político estadual, que é o papel da SESAP. É importante para mim vivenciar um pouco desse desafio.
Observatório RH: Possivelmente, este é um dos momentos com o maior número de bachareis em saúde coletiva na secretaria. Como tem sido estar inserido na secretaria com outros colegas de formação? Victor Hugo: Tem sido bem oportuno. Estava, por exemplo, em uma reunião, há algumas semanas atrás, e percebi que existam egressos em espaços estratégicos nas diversas coordenações da SESAP. Egressos que traziam reflexões e proposições no espaço. É muito bom observar um momento favorável na qualificação no campo da gestão. Nesses espaços, estamos falando com nossos pares que possuem a mesma formação e, juntos, dessa forma, podemos construir possibilidades e estratégias para vencer situações que são vistas como impossíveis de se construir. O Secretário inseriu vários egressos em espaços estratégicos como, por exemplo, no setor de planejamento, na Escola Técnica do SUS (CEFOPE/RN), na CIB, Coordenação de Promoção à Saúde e articulação das redes, tudo isso para que a gente consiga realizar um diálogo contínuo e busque fortalecer uma rede institucional com o objetivo de sistematizar e construir novas práticas de trabalho.
Observatório RH: Victor, para finalizar, se você pudesse deixar um recado para quem está iniciando a graduação agora em Saúde Coletiva, qual recado você deixaria? Victor Hugo: Tentaria deixar um recado, por esse tempo, bem otimista. Trata-se de um curso que tem importância social e política muito relevante, principalmente pelo atual cenário no qual vivemos no Brasil, um cenário de descrédito e desmonte das políticas públicas, em especial do Sistema Único de Saúde. O bacharel em saúde coletiva já se mostra como um ator importante na construção e consolidação desse sistema. Vejo que o diálogo com os docentes é fundamental, pois eles são os principais motivadores em sala de aula, o que nos impulsionam como discentes e egressos, posteriormente. O que seria dos egressos sem os docentes? Foram eles os motivadores, como nos conta a história, que contribuíram com a construção do Sistema Único de Saúde. Concomitantemente, é importante a aproximação com as lutas e pautas dos egressos, participando dos movimentos e espaços construídos. Então, desejo que os alunos sempre se motivem com a história do SUS e que, juntos com os diversos atores, possam somar forças para a manutenção dos direitos na garantia e fortalecimento dos espaços coletivos desse Sistema.