[...] Experimentar o serviço e entender como ele funciona tem sido uma experiência maravilhosa. Temos muitos egressos atuando juntos. Diariamente vemos cada um, especificamente na sua área, atuando e trazendo muitos resultados. Alessandra Lucchesi
Entrevista realizada com Alessandra Lucchesi de Menezes Xavier Franco - Atual Subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da Coordenação de Promoção à Saúde da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte. Alessandra tornou-se bacharel em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte no ano de 2017. A entrevista foi realizada por Thais Paulo Teixeira Costa, pesquisadora do Observatório de Recursos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Observatório RH: Alessandra, como chegou à graduação em Saúde Coletiva? Pode nos falar um pouco sobre sua trajetória até a graduação? Alessandra Lucchesi : Inicialmente, posso dizer que vim morar em Natal aos 11 anos de idade. Toda a minha trajetória acadêmica foi aqui no Rio Grande do Norte. Sempre pensei que faria uma graduação na área de exatas, mas, por influência de um professor, quatro meses antes do vestibular, decidi tentar o vestibular para Medicina. Fiz o referido processo para concorrer a uma vaga na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e obtive um bom desempenho na prova; porém não o suficiente para passar no curso. Depois disso, decidi cursar a graduação em Enfermagem para saber se a saúde seria o caminho sobre o qual gostaria de trilhar, isso para não me arrepender posteriormente. Então, acabei me identificando com a Enfermagem. Um tempo depois, tentei a graduação em Saúde Coletiva que, naquela época, chamava-se “Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde”. O primeiro ano foi difícil por questões pessoais e por ser o meu último ano na graduação em Enfermagem. Todavia, apesar disso, apaixonei-me pelo curso, pois compreendi sua base histórica, suas conquistas e desafios e me apaixonei pela Saúde Coletiva, em especial pela área da gestão dos serviços. Em minha trajetória na graduação, tive experiências maravilhosas. Uma delas foi durante o estágio no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (administração financeira) e na Secretaria Municipal de (vigilância sanitária). Foi com essas experiências que me descobri enquanto pessoa. Tive outros caminhos profissionais no decorrer da minha formação e, hoje, atuo como Subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte.
Observatório RH: E como tem sido atuar na Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte? Alessandra Lucchesi : Inicio re-afirmando que me tornei outra pessoa após a graduação em Saúde Coletiva, isso por ter realmente conhecido como é uma gestão dos serviços de saúde. Então, hoje, em minha atuação na secretaria, só consigo ter plena convicção das minhas atribuições e das minhas atividades por ter cursado a graduação em saúde coletiva. Hoje também consigo compreender os microprocessos de trabalho, bem como os seus macroprocessos. Estamos tentando dar subsídios para o planejamento, buscando organizar a assistência através do perfil epidemiológico, por meio da qualificação das informações. Vejo que hoje a gente tem uma visão mais ampla, uma vez que buscamos ter atenção para o serviço como o todo, considerando a necessidade de maior qualificação do serviço, pensando em um prospecto de rede e em organizar o serviço como todo. A universidade me ensinou muito, e a prática tem sido surpreendente. As aulas de orçamento e financiamento auxiliaram muito em minha atuação por ter aprendido conceitos que utilizo no manejo e planejamento das fontes de recursos advindos do âmbito federal. As aulas acerca da área de recursos humanos em saúde também têm contribuído por compreender a relevância e complexidade desta área. O setor que atuo é um dos maiores da secretaria, com 130 servidores sobre nossa responsabilidade. Então, tudo é um grande desafio. Destaco a importância da área de Planejamento por compreender a importância da continuidade das ações pensadas agora e em outros anos. Vivenciar o setor de Vigilância na Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte é complexo, mas rico e interessante.
Observatório RH: Você falou sobre a sua transformação no cotidiano dos serviços. Como tem sido a troca conhecimentos com os servidores inseridos na secretaria? Alessandra Lucchesi : Gerenciamento de expectativas, que é o que eu estou tentando fazer, e ter maior inteligência emocional em muitos aspectos são fatores muito importantes. Um dos desafios vivenciados por nós sanitaristas é o desejo de lutar pelo Sistema Único de Saúde. Então, tendo como base o que estudamos, posso dizer que queremos obter os melhores resultados, mas, na prática, existem outros entraves, principalmente burocráticos. Nesse meio tempo, você tem pessoas que estão há muitos anos com modos de fazer diferente, e devemos, respeitando o espaço do outro, ponderar e dialogar para construir um caminho viável para todos. O que facilita muito é ter um gestor que pensa da mesma forma que a gente, pois os direcionamentos da gestão ajudam bastante. Até o presente momento, não vi nada que aprendi na faculdade que não fosse viável de ser aplicado no serviço. Tudo é viável, mas desde você saiba conduzir para que se efetive.
Observatório RH: Como tem sido trabalhar com outros egressos da graduação em saúde coletiva? Alessandra Lucchesi : Tem sido fantástico trabalhar com os outros colegas. Por quê? Porque todo mundo tem a mesma ideia, todo mundo se dedica e veste a camisa. Acredito que essa é a principal característica do egresso em Saúde Coletiva: vestir a camisa e acreditar no que faz. Então, a gente tem um diálogo muito aberto. As críticas sempre acontecem e são extremamente construtivas para ambos os lados. É engraçado que, às vezes, retomamos algumas conversas de sala de aula: “Não, espera aí, vamos sentar! ”. Não dá para seguir apenas a rotina de trabalho, apesar de ser um desafio não seguir o fluxo das demandas. É neste momento que paramos para pensar e buscar fazer da forma que aprendemos, que é a melhor forma possível. Saindo da graduação, percebemos que, apesar de ser a mesma graduação, temos áreas de dedicação diferentes. Experimentar o serviço e entender como ele funciona tem sido uma experiência maravilhosa. Temos muitos egressos atuando juntos. Diariamente vemos cada um, especificamente na sua área, atuando e trazendo muitos resultados. Temos um perfil profissional que tem uma visão mais ampla e acredito que isso facilita muito o nosso trabalho, porque conseguimos compreender como um setor conversa com o outro e também como um depende do outro. Com outros egressos trabalhando juntos, temos também buscado trabalhar unidos. Então, essas articulações que proporcionam entender esse processo todo estão sendo incríveis. As pessoas já relatam que são ações que não aconteciam antes. Lógico que ainda está começando, mas já tem muitos avanços.
Observatório RH: Como você identifica a contribuição dos egressos para o enfrentamento e consolidação do Sistema Único de Saúde? Alessandra Lucchesi : Acredito que a formação a qual recebemos nos dá subsídios para compreendermos a base, o processo histórico da construção do SUS e a importância desse sistema para o Brasil. Isso nos faz com que possamos lutar para que tudo seja o melhor. Posso afirmar que isso tem sido fundamental para as discussões que fazemos. Vou citar um exemplo: na área da vigilância, estamos com um enorme desafio, pois realizamos o controle das mamografias e citologia. Com base em uma análise que fizemos, percebemos que, com a nova forma de financiamento, o estado sofreu consideráveis perdas. Então, fomos dialogar com o planejamento para realizar um estudo e, com isso, constatamos uma grande diferença orçamentaria. Com o apoio da CIB, dialogamos com os gestores para, juntos, lutarmos pelo o que é nosso por direito. Estamos em um contexto político desafiador para aquilo que a gente acredita e, portanto, para colocar em prática o que estudamos. Acredito que o nosso conhecimento, a forma que trabalhamos, faz toda diferença. Retomar a importância das unidades regionais, até a forma como organizamos nosso processo de trabalho, contribui para que o SUS se consolide.
Observatório RH: E os pontos apresentados por você demonstram o interesse essencial para consolidar e realizar as mudanças nas práticas de trabalho. Alessandra Lucchesi : Eu creio que o principal ponto mesmo é a visão que a gente tem da reorganização do processo de trabalho, para que seja possível alcançar aquilo que a gente acredita e, então, culminar na consolidação do SUS. Provar de alguma forma para as pessoas que existe sim gente qualificada para isso e que o sistema pode funcionar, desde que ele seja conduzido e passe por uma gestão que saiba conduzi-lo. O principal é isso: a forma que a gente tem conduzido, por entendermos o que precisa para resolver vários desafios. Então, a principal diferença é essa, uma vez que temos um conhecimento muito denso sobre o que é o Sistema Único de Saúde e lutamos para não aceitar menos do que sabemos que pode acontecer.
Observatório RH: Se você pudesse deixar um recado, agora finalizando, para uma pessoa que está entrando na graduação em Saúde Coletiva, o que você diria? Alessandra Lucchesi : Diria para todos que aproveitem ao máximo toda disciplina que vivenciarem ao longo dessa graduação, porque tudo vai fazer com que consigam compreender algo que não irão apenas trabalhar por ele, mas lutar por. Então, falar do SUS, para mim, é algo que me traz grande emoção, porque eu aprendi a amá-lo. Hoje trabalho e me dedico muito além para fazer com que as coisas aconteçam. Na realidade, você que está entrando no curso de Saúde Coletiva é a nova geração de profissionais que estará junto comigo e outros colegas. Então acredito demais em você e espero que você faça muito mais daquilo que faço. Aproveite cada segundo, pois todas as disciplinas fazem total sentido quando você vem para a prática do serviço.