[...] Existe entre nós o senso comum de que as ações de educação na saúde são importantes para o serviço, eu também acho, mas parto da ideia de que precisamos mostrar à sociedade. Haroldo Pontes
Entrevista com Haroldo Pontes, responsável técnico pela câmara da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde e aluno da primeira turma do Mestrado Profissional em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Nesta entrevista, ele conversa com Thais Paulo, pesquisadora do Observatório RH - UFRN, sobre seu projeto de pesquisa para o mestrado e também destaca sua trajetória e expectativa enquanto aluno do programa.
Observatório RH: Vamos começar por sua trajetória de trabalho? Haroldo Pontes: Minha trajetória é bastante longa. Terminei minha graduação em psicologia, em meados da década de 1980 na Universidade Federal do Ceará. Após um período, fui para São Paulo fazer mestrado em Psicologia Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. No entanto, fiz um concurso e comecei a trabalhar no serviço público, na Secretaria Estadual de Saúde, localizada em um município da região sul da Grande São Paulo. Nessa época eu comecei a aprender o que é trabalhar na rede pública. Comecei na unidade básica de saúde, minha área de trabalho era a saúde mental. Logo na sequência, comecei a assumir alguns espaços de decisão de Gestão em São Paulo, trabalho que me absorveu completamente. Nesse período, passei a coordenar o programa de saúde mental na região e também comecei a assessorar a direção de um distrito de saúde de São Paulo que, inclusive, foi um dos pioneiros no Brasil na implantação dos distritos sanitários de saúde. Foi uma trajetória de aproximadamente 12 anos da minha vida. Retornei para o Ceará e continuei trabalhando na área da saúde mental. Após um período, assumi a responsabilidade de atuar como chefe do serviço de auditoria do Ministério da Saúde do Estado do Ceará e, em seguida, fui coordenador e dirigente da Escola de Saúde Pública do Ceará. Também tive experiência por alguns anos como secretário adjunto de Estado da Secretaria de Saúde do Ceará.
Observatório RH: Poderia nos falar um pouco sobre a sua aproximação na área da Gestão, Trabalho, Educação e Saúde? Haroldo Pontes: Minha experiência sempre aconteceu com muita proximidade dessa área. Como ex-secretário adjunto do Estado do Ceará, uma das minhas áreas de acompanhamento era essa. Eu acompanhava a área de educação, trabalho, controle social, formulação, e era essa nossa divisão de trabalho. Na direção da escola também aconteceu a mesma coisa, acompanhando essa área de maneira muito próxima. Quando comecei a trabalhar no Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass), a partir, aproximadamente, de 2016, eu passei a assumir a área de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde no Conselho. O Conass é uma entidade que congrega o Conjunto das secretarias Estaduais de Saúde, mas temos em Brasília um escritório que tem uma assessoria técnica com aproximadamente 14 pessoas com longa experiência na área da gestão em saúde que apoiam as secretárias estaduais em determinadas áreas. Nós temos um conjunto de ações junto às secretarias estaduais de apoio, de organização. No Conass eu me dedico a um conjunto de atividades que envolve as escolas de saúde pública e escolas estaduais de saúde. Sou membro do Conselho Nacional de Saúde representando o Conass em duas comissões desse Conselho: a Comissão intersetorial de Recursos Humanos e Relações de Trabalho e a Comissão de Saúde Indígena.
Observatório RH: Quais são suas expectativas para o mestrado Profissional em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte? Haroldo Pontes: Olha, tem um pouco mais de 30 anos que interrompi um mestrado que estava cursando por causa do trabalho. Não falo isso como queixa ou reclamação, a vida de cada um é uma construção de vontades e necessidades, e a minha vida me levou por esse caminho que apresentei aqui. Quando apareceu a possibilidade de cursar o Mestrado Profissional em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde eu quis não apenas complementar esse ciclo, mas, para além disso, vi uma oportunidade de tentar organizar e formular tudo o que vim aprendendo e debatendo durante todos esses anos. Então é uma oportunidade de vida elaborar o meu projeto que tem uma relação direta com a compreensão de que o SUS é importante! Eu parto desta compreensão, que tem a ver com o trabalho e com a oportunidade de potencializar aquilo que faço no meu dia a dia.
Observatório RH: O que lhe motivou a desenvolver o seu projeto de mestrado? Haroldo Pontes: Baseado nas necessidades que percebo e vivencio no SUS. A história do País não é uma história de inclusão. Temos uma política de saúde que fala de universalidade, integralidade, equidade e controle social, e é claro que haverá dificuldades, sempre. Trabalhar com educação para os serviços de saúde é uma dessas dificuldades. Por isso precisamos demonstrar a importância da educação na saúde, não podemos correr o risco de, em alguns anos, perdermos o que construímos. Temos um conjunto de escolas de saúde públicas atuando para o SUS, elas não podem perder seu espaço e sua importância. Minha proposta de trabalho parte da compreensão de que é necessário demonstrar que as ações desenvolvidas pelas Escolas Estaduais de Saúde causam diferença nos serviços de saúde. Existe entre nós o senso comum de que as ações de educação na saúde são importantes para o serviço, eu também acho, mas parto da ideia de que precisamos mostrar à sociedade. Então, o que eu estou estudando e quero demonstrar são as evidências que comprovam isso.