[...] É um movimento global em torno de estratégias que possam se reverter em sistemas de saúde mais fortes no atendimento efetivo das necessidades de saúde das pessoas. Marcelo Viana da Costa
Marcelo Viana da Costa é doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (2014). Atua como docente da Escola Multicampi de Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Estuda e pesquisa sobre Educação Interprofissional em Saúde, trabalho interprofissional em saúde, trabalho em saúde, formação profissional em saúde e políticas de reorientação do trabalho e da formação em saúde. Integra o corpo docente do Mestrado Profissional Ensino e Saúde, do recém-criado Mestrado Profissional Gestão, Trabalho, Educação e Saúde (ambos da UFRN) e do Curso de Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, executado pelo Observatório de Recursos Humanos da UFRN em parceria com o Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho/Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde/Ministério da Saúde. Nesta entrevista, ele conversa com Thais Paulo, pesquisadora do Observatório RH - UFRN, sobre sua atuação na UFRN como professor e pesquisador. Destaca o tema da Educação Interprofissional em Saúde como central na sua experiência de docente e fala das suas expectativas em avançar com este tema na perspectiva de desenvolver competências para o trabalho em equipe nos serviços de saúde.
Observatório RH: O que levou o senhor a estudar a Educação Interprofissional em Saúde? Marcelo Viana da Costa: A minha aproximação com a Educação Interprofissional se deu em razão do doutorado. Sempre tive muita identificação com discussões relacionadas à formação dos profissionais de saúde e os meus orientadores, Profa. Maria José Vila e George Dantas, ambos da UFRN, sugeriram esse tema. Na realização de leituras para a elaboração do projeto de doutorado fui sendo convencido da importância dessa discussão para o cenário brasileiro. Realmente avançamos em muitos aspectos na reorientação da formação em saúde, mas desenvolver competências para o efetivo trabalho em equipe na realidade dos serviços de saúde ainda é um grande desafio. No doutorado tive a oportunidade de realizar um estágio sanduíche na Universidade da Califórnia em São Francisco (EUA), com o Prof. Scott Reeves – umas das maiores referências nessa discussão em todo o mundo – que infelizmente morreu precocemente em 2018. Na Universidade da Califórnia tive a oportunidade de aprofundar essa discussão e comecei a visualizar que esse é um tema promissor para a realidade do Brasil. Fazemos muitas coisas interessantes aqui e esse referencial pode nos ajudar a fortalecer o movimento histórico em torno de uma formação em saúde mais alinhadas às necessidades de saúde e ao fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
Observatório RH: Como o senhor analisa o contexto histórico da Educação Interprofissional em Saúde no Brasil? Marcelo Viana da Costa: Este é um tema que vem ganhando grande visibilidade em todo o país. Claro que há muito tempo muitas instituições já realizam experiências de aprendizagem compartilhada com estudantes de diferentes cursos. No entanto, atualmente estudiosos e pesquisadores percebem que os marcos teórico-conceituais e metodológicos da Educação Interprofissional em saúde são relevantes para sistematizar essas iniciativas e assegurar que a intencionalidade no desenvolvimento das competências colaborativas possa estar mais claramente demarcada nas muitas iniciativas historicamente adotadas no contexto das Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras. Nos últimos dois anos esse tema vem ocupando espaços em importantes políticas nacionais. Atualmente o Departamento de Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, do Ministério da Saúde, lançou o edital para seleção de propostas para o Programa de Educação pelo Trabalho na Saúde, com foco na interprofissionalidade – o PET-Saúde Interprofissionalidade. O edital tem como objetivo estimular mudanças na formação em saúde através da incorporação dos marcos teórico-conceituais e metodológicos da educação e do trabalho interprofissional na área. Esse é apenas um exemplo, mas muitas outras atividades com foco nessa temática podem ser mencionadas: o mapeamento das iniciativas de Educação Interprofissional em saúde no Brasil e a oferta do Curso de Atualização em Desenvolvimento Docente para a Educação Interprofissional, ambas encomendadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e coordenada por Marina Peduzzi, professora da Universidade de São Paulo (USP). A Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Botucatu, por meio da professora Eliana Cyrino coordenou duas outras importantes ações: Oficinas Regionais para apoiar a adoção dos marcos teórico-conceituais e metodológicos da Educação Interprofissional nos cursos da graduação em saúde das instituições de ensino superior e a publicação do Suplemento sobre Educação e Trabalho Interprofissional em Saúde no Brasil na Revista Interface: Educação, Saúde, Comunicação. Os pressupostos teórico-conceituais e metodológicos da educação e do trabalho interprofissional também foram incorporados no texto das Diretrizes Gerais para os cursos da saúde, sendo importante dispositivo orientador de mudanças curriculares em cursos da área em todo o país. Esses são alguns exemplos de como o tema da Educação Interprofissional vem ganhando visibilidade no nosso país. É um movimento global em torno de estratégias que possam se reverter em sistemas de saúde mais fortes no atendimento efetivo das necessidades de saúde das pessoas.
Observatório RH: Quais os impactos que a educação baseada na interprofisionalidade pode levar para o Sistema Único de Saúde? Marcelo Viana da Costa: O Sistema Único de Saúde tem como um de seus princípios a integralidade da atenção e um dos pressupostos para essa integralidade é o efetivo trabalho em equipe, que deve permear outras formas de trabalho interprofissional. Dessa forma, a Educação Interprofissional em saúde, através de seus pressupostos teórico-conceituais e metodológicos pode se somar a outras políticas históricas no sentido de subsidiar processos de reorientação da formação, tendo como horizonte a melhoria da qualidade da atenção à saúde.