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[...] Escolhi realizar o meu doutorado na linha de pesquisa em história e não em educação para a surpresa geral, porque sempre trabalhei com educação. Sheila Saint-Clair da Silva Teodósio

Entrevista

Sheila Saint-Clair da Silva Teodósio | Professora do Departamento de Enfermagem da UFRN

Sheila Saint-Clair da Silva Teodósio é enfermeira por formação. Concluinte da primeira turma do curso de enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em 1977. Doutora em Enfermagem pelo Programa da Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina e mestre em Educação pelo Programa da Pós-Graduação em Educação da UFRN, Sheila Saint-Clair é professora do Departamento de Enfermagem da UFRN e membro do Grupo de Estudos da História do Conhecimento da Enfermagem e Saúde (GEHCES). A professora Sheila também foi presidente da Associação Brasileira de Enfermagem do Rio Grande do Norte - ABEn-RN(2004/07-2007/10) e conselheira fiscal da Associação Brasileira de Enfermagem (2013-2016). Em entrevista concedida, em maio de 2016, ao jornalista Gustavo Sobral, pesquisador colaborador do Observatório RH - UFRN, a professora fala sobre a identidade do profissional de enfermagem, tema da sua tese de doutorado.

Observatório RH: Por que estudar a enfermagem na perspectiva da história e não na perspectiva da educação? Sheila Saint-Clair da Silva Teodósio: Escolhi realizar o meu doutorado na linha de pesquisa em história e não em educação para a surpresa geral, porque sempre trabalhei com educação. No mestrado foi assim, estudei a divisão do trabalho e a sistematização da enfermagem, exatamente porque trabalhava com uma disciplina chamada didática aplicada à enfermagem. Também tinha leituras na área de educação, Paulo Freire, Moacir Gadotti, fui também professora da capacitação pedagógica dos enfermeiros no Projeto Larga Escala, então tudo se encaminhava para que escolhesse educação, e não história. Então resolvi propor estudar a história da formação em enfermagem a partir do olhar dos egressos da primeira turma, que era a minha turma.

Observatório RH: Como foi todo o processo de definição da pesquisa a ser realizada e como chegou a proposta de estudar a identidade profissional? Sheila Saint-Clair da Silva Teodósio: Ingressei no programa de pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina com este propósito de estudo, mas no decorrer do curso de doutorado, um novo projeto foi gestado. Descobri que já havia trabalhos publicados sobre a história da enfermagem no Rio Grande do Norte. Assim, a minha orientadora, a professora Itayra Padilha, estudiosa da história da enfermagem no Brasil e com diversos trabalhos publicados, inclusive, a história da enfermagem no Brasil, me aconselhou mudarmos o projeto. Também recorri a minha mentora, a professora Raimundinha, professora Raimunda Germano, que também me aconselhou a buscar uma nova perspectiva de análise. Então comecei a pensar um novo projeto. Outra inquietação nascia com meu dia-a-dia como professora, percebia que muitos dos alunos escolhiam enfermagem não como primeira opção e via que a maioria entrava sem querer, mas saia querendo. Numa das discussões nas aulas do doutorado, o tema foi identidade. Então comecei a pensar: estes alunos vão construindo a sua identidade profissional no decorrer do curso. E então percebi claramente o que deveria estudar. E como gostaria de trabalhar com memória, resolvi estudar a minha turma, que foi a primeira turma. Comecei as leituras em busca de referencial teórico e descobri a obra de Claude Dubar, que trata de identidade profissional, que dizia que a identidade profissional é construída quando o sujeito escolhe a profissão e se dá também com as grandes referências profissionais. No entanto, percebi que quando entramos no curso, éramos a primeira turma, não tínhamos referência anterior, haviam apenas os professores do curso e os poucos profissionais que atuavam nos hospitais. E assim resolvi qual seria a minha proposta de estudo, a memória da primeira turma e como foi construída a identidade profissional desta turma, partindo de uma tese de que a formação é responsável pela construção da identidade profissional. O objetivo do trabalho era então compreender como a formação universitária contribuiu para o processo de construção da identidade profissional de enfermeiros no Rio Grande do Norte.

Observatório RH: A que conclusões chegou e como o trabalho foi estruturado? Sheila Saint-Clair da Silva Teodósio: Identifiquei que a construção da identidade profissional interfere em vários processos indenitários, desde a identidade biográfica, até a identidade coletiva construída na trajetória da formação, e tudo isso contribui para a inserção dos enfermeiros no mercado de trabalho, pelo sentimento de pertença a um grupo e pelo reconhecimento social. Os resultados foram apresentados sob a forma de três artigos. No primeiro, analisei o conceito de identidade profissional do enfermeiro, que me levou a conclusão de que a identidade profissional de enfermeiros é um processo histórico formado pela trajetória biográfica, relações sociais e profissionais. No segundo, me detive aos motivos que levaram a escolha daqueles alunos pelo curso de enfermagem, e nisso identifiquei uma série de fatores. No terceiro, me concentrei exatamente a minha turma e analisei a identidade profissional a partir de entrevistas com dezesseis alunos egressos da primeira turma do curso de graduação em enfermagem da UFRN. E cheguei à conclusão de que é na interseção entre o processo formativo, a inserção no processo de trabalho e a projeção de futuro da profissão que os enfermeiros reconstroem sua identidade.